“Sobre as viagens que fazemos pela Polícia Federal. Com qual frequência, se somos obrigados a ir, como funciona a escala. E se tiver esposa (o), namorada (o), filhos (as), como funciona?”
Se você deseja ser PF, tem que colocar na cabeça que, mesmo não querendo, terá que viajar. A Polícia Federal deflagra mais de 2 operações por dia no Brasil todo. As operações normalmente demandam policiais de todas as lotações daquele estado e algumas operações ainda demandam policiais de estados vizinhos. Então, com um cálculo simples, podemos determinas aproximadamente a média de viagens para deflagrações que você fará por ano, ao entrar no DPF.
São 27 estados, já incluindo o Distrito Federal. São aproximadamente duas deflagrações por dia, ou seja, 730 deflagrações no ano. Dividindo isso pelo número de estados, são aproximadamente 27 deflagrações por estado. Claro que nem toda operação precisa de gente do estado todo, e nunca irão todos os policiais de uma lotação, senão a delegacia ficaria vazia, e isso não pode. Supondo que vá em média um quinto dos policiais da sua delegacia/lotação em cada deflagração do seu estado, isso dá uma participação sua em cada 5 deflagrações. Ou seja, você viajará para deflagrações, em média, 5 vezes por ano. Essas viagens normalmente são de curta duração, mas são bem cansativas. Normalmente você tem um dia para o deslocamento de ida até a cidade onde ocorrerá a operação, um dia para a deflagração, e um dia para deslocamento de retorno.
Mas nem só de viagens curtas vive um Policial Federal. Há muitas missões permanentes no Brasil, além de algumas necessidades de “tapar buracos” também. As missões permanentes são normalmente em locais que não há lotação fixa, mas tem um posto da PF sempre funcionando. Normalmente nas fronteiras, como por exemplo, em São Gabriel da Cachoeira/AM e Assis Brasil/AC, além de alguns aeroportos onde falta efetivo policial. Essas missões normalmente tem duração de 60 dias. Nessas operações permanentes normalmente o serviço é operacional no sentido de trabalhar com o público (aeroportos, imigração) ou no patrulhamento e fiscalização de fronteiras (rios e florestas).
As missões “tapa buracos” normalmente funcionam quando uma lotação específica está com falta de pessoal. Então o chefe de lá informa à superintendência (caso seja uma delegacia descentralizada) ou à Brasília (caso seja uma superintendência) o motivo de estar faltando pessoal e a necessidade de ir mais gente para lá. Aí pode cair no seu colo uma viagem dessas. Normalmente dura 60 dias também. E eu chamo de tapa buracos porque seu serviço será exatamente esse: fazer o que ninguém, na lotação a qual você chegou de missão, quer fazer.
Por último, existem as viagens para acompanhar outros órgãos de fiscalização. Por exemplo, IBAMA e FUNAI. Essas missões são, em minha opinião de novinho, as mais “sugadas”. São aquelas que cansam mais. Porque normalmente você dorme em redes na casa de ribeirinhos ou nas tribos, além de muitas horas de caminhada em matos ou dentro de uma voadeira nos rios. Isso porque com o IBAMA você vai fiscalizar os crimes ambientais, e esse criminosos fazem isso no meio da floresta normalmente. E com a FUNAI, vai ajudar com a causa dos indígenas, normalmente são os que moram nas tribos. E quase sempre fica longe das cidades.
Você pode se negar a ir nessas missões? Não. Simples assim. Por isso que normalmente há uma escala de viagens nas delegacias e superintendências, para saber de quem é a vez de viajar. Há policial que goste, e há policial que não goste. Já vi colega que gosta ir no lugar do que não gosta, e tudo se resolveu entre colegas mesmo. Essa é a única forma de não viajar, achar alguém para ir ao seu lugar.
Não importa se você tem ou não tem família, irá viajar, e muito! Basta o chefe querer, e fazer sua OM (ordem de missão). Como eu sempre gostei de viajar, isso é um prato cheio para mim. Além de conhecer diversos lugares que você jamais quereria ir pagando, você ganha as diárias, e conhece muita gente. Eu sempre penso no lado positivo dessas viagens, e sempre me divirto. Já vi colegas agoniados para voltarem ou ansioso não querendo ir. Uma vez meu chefe me chamou e disse: acho que você é o APF que mais viaja na delegacia. Isso porque eu sempre sou voluntário quando perguntam quem quer viajar.
Então, caso queira realmente ser Policial Federal, saiba que nem tudo são flores. Há muito trabalho a ser feito. E que sempre você pode tirar uma experiência boa, mesmo nos momentos mais cansativos. Sua família tem que estar ciente de que isso vai fazer parte do seu trabalho, e te apoiar nesses momentos. Porque tudo que você não precisa é viajar preocupado com quem ficou. Depois de ler esse texto, você acha que está preparado?
Fonte: APF do Norte, em Saga Policial.