O policial federal e o gordinho

“Essa hora eu nem conseguia mais pensar em nada. O fuzil já pesava toneladas e o cansaço vai nos tornando descuidados.” 

2017

Como policiais federais, somos chamados várias vezes para fazer escoltas de agentes da fiscalização do meio ambiente. Dessa vez, eles me solicitaram, junto com um colega, a escoltar 2 agentes de fiscalização ambiental nas áreas federais. Uma cidadezinha próxima daqui.

A locomoção para essas áreas a serem fiscalizadas é de “rabeta” (pequena embarcação com um motor de poupa, especialmente feita para subir corredeiras e passar pelas pedras) e a pé. E o agente de fiscalização, que vou chamar de Gordinho, avisou: temos que fiscalizar uma área de desmatamento aqui perto. Sairemos às 09 horas de amanhã.

Acertamos de onde seria a partida e, no outro dia, saímos em direção ao local a ser fiscalizado. Foi aproximadamente 1h de barco até lá. Para chegar à trilha, tínhamos que subir um barranco íngreme e escorregadio. Tinha muita lama. Uma coisa é você subir isso estando com roupas normais. Outra é subir equipado com colete, pistola, algema, cinto tático e fuzil. Então a aventura já começou nessa hora.

O agente Gordinho esqueceu de nos avisar que, além de 1h de barco, teríamos que caminhar mais uns 5 km no mato. Como ele não nos avisou isso, nós não nos preparamos para essa caminhada. 5 km ida e 5 km volta. Essa distância, numa rua pavimentada, você, com passadas rápidas, faz em 50 minutos cada trecho. Mas na trilha no meio da floresta, esse tempo dobra. Além disso, a floresta é úmida e muito quente. Só tínhamos 2L de água para 7 pessoas.

Então já na primeira hora a água acabou. Quando achávamos riachos pelo meio do caminho enchíamos a garrafa. Eu tinha levado hipoclorito no meu kit de sobrevivência e pingava uma gotinha para limpar qualquer impureza (isso foi motivo de zuação. Mas tudo que eu não precisava era de uma diarreia). Ainda tinha que alguém levar a garrafa na mão. Nossos coletes tem o camelbak, que é um reservatório de água que você carrega nas costas. Mas não enchemos porque não fomos avisados da caminhada. Então a sede era algo constante. Junto com a dor de cabeça e a dor do esforço de caminhar com todo o equipamento.


Gordinho caminhava no mato como se fosse o ambiente dele. Várias vezes tivemos que pedir para ele diminuir o passo, pois tinha gente ficando para trás. E após duas horas de caminhada, chegamos ao local. Um desmatamento se recuperando. Pouca coisa para fazer. Gordinho pegou o GPS e marcou a área.

Sentamos 10 minutos para descansar. Eu estava totalmente encharcado de suor. Todos da equipe estavam bem cansados. Mas tínhamos agora o retorno. Eu preferia nem pensar nisso. Só coloquei o fuzil nas costas e comecei a seguir Gordinho.

Essa hora eu nem conseguia mais pensar em nada. O fuzil já pesava toneladas e o cansaço vai nos tornando descuidados. Uma hora pisei em falso, me apoiei meio desajeitado numa árvore. Mas vinha embalado, então esse apoio estava mais para um encontrão. E o fuzil bateu forte no meu rosto. O colega perguntou se eu estava bem. Falei que tudo certo! Prosseguimos.

Mais 2 horas de caminhada e chegamos novamente ao barranco onde estavam os barcos. Sentamos para descansar. A ribeirinha nos ofereceu água gelada. E eu juro que pagaria qualquer valor por um copo de água gelada. Demos uma “bronca” no gordinho por não ter nos avisado. Ele riu. Embarcamos de volta. Mais uma hora de viagem até a base na cidadezinha.

A aventura valeu a pena. Mas basta uma dessas por vida. Na próxima vida, me convidem para outra, não nesta de novo, tá? Pensei.

E aí…prontos para enfrentar os “gordinhos” na Federal?!

Fonte: Saga Policial, por APF do Norte, policial federal.