Leia o depoimento motivacional considerado o melhor de todos os tempos na área policial! Proibida a reprodução sem citar a fonte, todos os direitos reservados. “Não saio. Não saio da polícia, cara. Não saio nem que me paguem. E quando você entrar, não vai querer sair também. Sabe por quê?”
“Não saio. Não saio da polícia, cara. Não saio nem que me paguem. E quando você entrar, não vai querer sair também. Sabe por quê? Porque você vai ser policial, parceiro.
Esqueça o que dizem sobre “polícia não ser Hollywood”. Esqueça essa papo todo de que “aquela emoção é só em filme de polícia”. “Ser polícia não é tudo isso”. Não é? Eu não sei em que polícia você trabalha, parceiro, porque na minha, ser polícia é tudo isso sim.
“Não vai salvar o mundo”. E daí? Vou salvar uma parte dele. Vou fazer a vida das pessoas ser melhor. Vou proteger todas elas. Eu vou ser o cara que vai se levantar para abater e ameaçar, quando todos estiverem correndo na direção contrária. Se isso não se parece com salvar o mundo, alguém me dê uma definição melhor, por favor.
Ignore quando disserem que “perseguição policial não existe”. Experimente estar na barreira, ao lado de um policial antigo, e ver um veículo fazendo meia volta para fugir da barreira. Segurança? Com certeza. Responsabilidade ao volante, respeito às estatísticas? 100%. Mas o cara vai ser pego. Você vai entrar na viatura, sentir a agressividade tomar o seu corpo, os seus gestos e a sua voz; vai tocar a sirene e alcançar o cara. Vai descer do carro, bater a porta da viatura com tanta força que o carro vai balançar, e gritar polícia, e o cara vai ser pego. Vai ser pego, porque é para isso que você vai estar ali.
Era só um motorista sem carteira? Um pai de família com crianças na caçamba? Que seja. Valeu a perseguição. Você impôs moral, gritou, intimidou e deixou claro àquela pessoa, que, ali, quem manda é a polícia.
Quando ler, ou ouvir, alguém dizendo que o serviço é tedioso, não acredite. Basta procurar, basta querer. Basta ir atrás dos crimes. E eles existem, cara. Os crimes existem. As pessoas não vão parar de prejudicar o mundo, nunca. E o seu trabalho é cuidar das pessoas e do mundo. Não vai faltar trabalho, não vai.
Você vai se entediar no plantão. Horas e horas de um serviço quase mecânico: cuidar de viaturas, carimbar passaportes, organizar materiais da delegacia, tudo isso. Mas pode ter certeza, que a cada vez em que você se levantar da sua cadeira e der as costas à pessoa que estiver atendendo, vai sentir o peso e a admiração do olhar dela sobre a inscrição nas suas costas, escrita de forma exageradamente grande: POLÍCIA FEDERAL, escrito em cinza ou dourado.
Você vai conhecer juízes, e vai se curvar à autoridade deles. Não literalmente, claro. Você vai pedir licença para entrar e sair, e baixar a voz para se dirigir a eles. Mas pode ter certeza, os olhos dele também vão se demorar por algumas frações de segundo quando pousarem sobre o seu distintivo, a sua arma ou o seu colete preto. Ele também te admira, cara, não tenha dúvida disso. A despeito de todos os preconceitos e arrogâncias que ele possa ter, ele te admira.
Você vai ser olhado com um ódio completamente novo, pelos criminosos da cidade. Pode esquecer, você nunca foi olhado assim antes. Você vai almoçar e se sentir desprezado quando os caras estiverem sentados perto de você. Azar o deles. Que arrumem um trabalho melhor. Porque você já encontrou o melhor dos trabalhos: ferrar com a vida deles.
Você vai cumprir mandados… e sim, vai precisar meter o pé na porta em alguns deles. Vai se borrar todo, porque o cara vai representar contra você. Não, não adianta. Ele vai representar. Você vai passar algumas semanas estressado com os procedimentos, prometendo se controlar mais, e dizendo a si mesmo que não vai mais se exceder…. o que é bobagem, claro. Da próxima vez, você vai bater com mais força ainda.
Você vai ser chamado no meio da noite, e vai se levantar sem a menor paciência… e na maioria das vezes, vai voltar para casa mais irritado ainda, por não ter achado nada. Mas às vezes… bem às vezes mesmo, você vai encontrar algo. Vai ver a droga. E é aquela mesma, igualzinha à do Fantástico e do Jornal Nacional. Vai saber que há um cara armado dentro da boate. E você vai estar de bermuda e chinelo, ou talvez com a sua roupa completa da balada. E daí? Distintivo no pescoço serve para isso mesmo. Você vai achar o cara. Vai ver a arma por baixo da camisa. Vai suspirar fundo, vai sentir medo e vai tremer…
… E vai pra cima dele. Chaves de braço e golpes da academia? Vão ter que servir para alguma coisa. Foi. Agora não tem mais volta. Você vai pegar o cara pelo braço, esfregar o distintivo na cara dele e berrar que ele perdeu. O cara pode até afrouxar, mas você não vai aliviar. Chave de braço com toda força, arrasta o cara pro lado de fora. A muvuca vai se juntar, você vai ter que, novamente, gritar, intimidar e impor respeito.
As pessoas VÃO TE ODIAR, mas você vai fazer o seu trabalho. “Você é policial, parceiro? Tem porte de arma? Alguma explicação pra isso aqui? Então você está preso.” Seu colega de plantão vai chegar. Ele vai estar mal-humorado como nunca, mas vai sorrir, e rir bem alto quando vocês disserem que pegaram um cara armado.
E mais tarde, a arma era de brinquedo? Ah, não, só pode ser brincadeira! Simulacro? E agora delegado, e a nossa moral, como é que fica?
Nas semanas seguintes, você vai continuar investigando. E como todo bom policial, você vai ter um informante. E ele, em algum momento, vai ser espancado ou torturado pelo traficante que você está investigando. Ah, não, peraí. No meu informante não. Você vai virar um animal. Vai começar a procurar suspeitos, vai falar alto e bufar. Vai começar a catar os caras que você já tinha na mira, um por um. Vai até o lugar mais barra-pesada da cidade, e vai descer da viatura, fazer CLAC-CLAC com a arma para apavorar mesmo. Já tinha uma na câmara e você jogou para fora? Desperdiçou uma munição? Azar, depois você pega. Nada, mas nada mesmo, substitui a cara do criminoso quando te vê engatilhando a arma. E daí se é clichê de filme policial? Foi por causa de filmes assim que você entrou na polícia, cara, não adianta. Você pode até pensar que não, mas foi.
Parceiro, polícia é ÊXTASE. Vai haver momentos em que você vai se sentir inebriado, entorpecido pelo prazer de trabalhar, cara. Pode acreditar nisso. O prazer vai diminuir com o tempo? Claro que vai, mas a impressão é a mesma. O brilho nos olhos vai ser menos freqüente… mas jamais vai desaparecer.
Velho, o mundo vai ser um lugar melhor, por sua causa. É para isso que você vai existir.
Eu não saio da polícia, parceiro. Nem que me paguem.”
Fonte: Saga Policial – texto do APF Leo Vasconcellos (reprodução autorizado somente mediante citação da fonte).