Artigo: A vida privada do novato policial federal

“A primeira vez que eu precisei me identificar como Agente de Polícia Federal, então… quase chorei. Emoção demais. Sonho se realizando.” 

2017

Perguntaram na postagem anterior sobre a vida privada do Agente de Polícia Federal. Vou falar como foi comigo. Acredito que, para cada um, deva ser diferente. Ainda mais para quem voltou para a cidade onde já morava, que não foi o meu caso.

A expectativa já começa antes de ir para a Academia Nacional de Polícia (ANP), em Brasília. Como vai ser e onde será lotado. Minha cidade tinha vaga, mas faltou estudar um pouco mais para ficar numa colocação suficientemente boa para ser lotado lá. Não rolou. Então escolhi uma fronteira razoável. Tem tudo, mas é cidade pequena.

Eu vim bem animado para conhecer a cidade. Cheguei sabendo que viria para morar, e não para passar férias. Então montei um apartamento confortável. Mandei fotos para os meus pais, para mostrar como eu estava bem (sabe como são os pais, ficam preocupados), ainda mais que foi a primeira vez que fui morar só.

Aqui na cidade quase todo mundo sabe que você é PF. Porque você sai com o pessoal da PF, almoça com eles, janta com eles, faz churrasco com eles, joga bola com eles, até divide algumas ficantes com eles (isso pode falar?). Fica difícil de esconder qual sua profissão. Cidade pequena, todo mundo se conhece.

Tem uns colegas que postam fotos no instagram, facebook, tinder, badoo, google+ e etc… eu já gosto de ser discreto. Apesar de a maioria saber quem você é, um dia você vai sair. E na cidade grande é mais fácil passar despercebido. Muitos dos meus amigos não sabem que eu passei nesse concurso. Zero fotos no facebook, não tenho instagram e nem as demais redes sociais.

Com a família você vira estrela. Referência para os primos. Citam você como caso de sucesso. Nas reuniões todo mundo quer saber se você está armado, se sempre anda armado, que arma usa e porque está ou não com ela na cintura naquele momento e se já atirou ou matou alguém. A mãe morre de medo de você matar alguém (espero que nunca precise) e acha desnecessária essa arma que você usa.

Os primeiros meses são complicados. Você chega perdido, precisa aprender 521 sistemas diferentes, com senhas distintas. Não recebe, fica devendo o banco. Depois vai pegando as manhas, entendendo como funciona, deixando de falar com o delegado chefe (essa parte é zoeira… ou não). Talvez deixe de falar com os outros delegados também (essa parte também é zoeira… ou também não).

Mas também os primeiros meses são os mais empolgantes. A primeira vez que eu precisei me identificar como Agente de Polícia Federal, então… quase chorei. Emoção demais. Sonho se realizando. Todos te respeitam. Quase um ano de trabalho e todo dia eu saio entusiasmado para trabalhar, mesmo sem saber o futuro da instituição. Isso é uma penumbra. Mas até agora, parece que vamos bem!

Posso gritar que finalmente achei o que eu quero fazer para o resto da vida. Mesmo às vezes tendo que acordar 2h da manhã e sair para cumprir diligência na chuva e no frio. Quando isso acontece eu penso: Que delícia! Foi pra isso que eu passei. Foi por isso que eu me esforcei.

Espero ter respondido.

Fonte: Saga Policial, por “APF do Norte”.